Notícia

Dia da Visibilidade Trans 2023 – Manifesto GRIT

Quem foram as pessoas de género diverso anteriores a nós?

As poucas narrativas e experiências de vidas trans em Portugal de gerações anteriores são lembradas como tendo sido vividas por vítimas da sociedade, invisibilizadas em dois polos binários ou reconhecidas enquanto exteriores ou dispares e, quando referidas, são resumidas numa história de violência ou até mesmo assassinato. No entanto, a diversidade das pessoas sempre existiu e está viva, está presente na individualidade de cada uma, seja essa diversidade inerente a um corpo trans ou não.

Celebramos o Mês da Visibilidade Trans para afirmarmos – Estamos Aqui. Que vivemos, existimos e procuramos um espaço em sociedade onde a nossa identidade não coloque em causa a nossa segurança e direito à vida. Todos os dias somos gente, somos pessoas trans, não-binárias ou de género diverso, procuramos existir e viver numa sociedade idealmente tolerante. Procuramos Ser numa realidade possível entre Todes.

Apesar de em Portugal terem existido progressos na lei, no acesso aos cuidados de saúde e à informação são progressos e passos que não podem ser considerados absolutos e adquiridos. A situação das pessoas trans continua a ser maioritariamente precária. As vidas trans são urgentes. Os nossos corpos ainda são percepcionados como aberrações e exceções. Isto dificulta o acesso ao emprego, a cuidados de saúde básicos, afetando as garantias primárias para uma vida digna.  Sobre a situação das pessoas trans migrantes em Portugal, acrescenta-se a impossibilidade de regularizar a documentação legal, dificultando e impedindo de forma sistémica em regularizar a vida a nível profissional, social e físico.  Cada pessoa tem as suas vivências, alegrias, tristezas, acima de tudo, uma personalidade, atitude e uma identidade, que se querem pertencentes a ela própria.

Todos os dias há discursos de ódio e violência perpetuada por discursos populistas de extrema-direita, desvirtuando o discurso sobre pessoas que procuram existir em comunidade e em paz. Negam-nos esses direitos por considerarem que somos pessoas diferentes, que promovem uma disrupção da sociedade.

Somos pessoas com sentimentos e merecemos ter apoio. Apelamos a direitos básicos para aceder a uma vida digna e livre, direitos que não só afetam as pessoas trans, mas a sociedade na sua generalidade. É preciso união e reconhecer que a defesa das nossas vidas é a defesa e o caminho para a vida de todas as pessoas no sentido de erradicar as desigualdades sistémicas e estruturais de uma forma interseccional.

É altura de todas as pessoas se unirem para que nada seja em vão. Que a luta pelos direitos que já garantimos seja sempre recordada e usada como exemplo de como continuar o nosso caminho. Que continuemos a dar à história o seu verdadeiro significado, ao continuar o trabalho de quem esteve antes de nós e lutou para que pudéssemos estar aqui. Para que quando questionarem sobre nossos testemunhos de vida entenderem que somos pessoas, somos visíveis e somos reais, e que exigimos uma sociedade plenamente inclusiva onde as nossas vidas sejam dignas.

A nossa luta é por sermos visíveis, sem medos, com todos os nossos direitos garantidos e com espaço para as nossas identidades e vidas.

Assinam:

Daniela Filipe Bento
Nina Pinto
Lourenço Ferreira Pinheiro
Marley Machado
Beatriz Carmo Flores
Pedro Manuel Matos 
Jules Cardoso
Robin Santos
Thy Vasconcelos 
Carlota Carvalho Leitão
Catarina Gusmão
Mariana Azevedo
Susana Sousa
Alice Fonseca 
Mateo
Lucas Daniel Palhares 
Alex
Blush
Sofia Jacob
Sarah Lopes Jorge
Luisa Bordeira
Afonso Alexandre
Diogo Almeida
Matias Gomes
Cal
Catarina Marques