Notícia

Dia Internacional das Mulheres 2022

Hoje celebra-se o Dia Internacional das Mulheres, e é ainda necessário reforçar que é de todas as mulheres. 

A ILGA Portugal reitera o lugar das vidas LGBTI+ dentro da luta feminista, reforçando o papel das identidades trans, não binárias e de género diverso no curso do movimento e no seu avanço frente às forças que procuram o seu apagamento.

As histórias e trajetórias das pessoas autoidentificadas ou lidas como do género feminino e/ou doutros géneros dissidentes são caminhos difusos sob um mesmo chão incerto, sustentado pelas estruturas patriarcais e perpetuação de um poder excludente, silenciante e desagregador. A imagem e os comportamentos das representações cis-hetero-mono-normativas e da masculinidade tóxica reduzem à subalternância outras identidades, outros géneros e outras sexualidades. Desta forma, concentram com exclusividade o controlo das liberdades e destinos dos corpos e mentes que vivem com o peso da exclusão e dos enquadramentos forçados. As nossas vidas são assim roubadas das possibilidades de um futuro mais digno, pleno e feliz, e da possibilidade de pensar e contar criticamente a história da qual fazemos parte.

As reais conquistas que já alcançámos são fruto da luta contínua e transversal que só deveria aprofundar os nossos motivos e empatias, assegurando-nos mais força para reivindicar os direitos que nos faltam e os seus devidos mecanismos de sustentação, que os protejam das tentativas quotidianas de corrupção. 

Se o lugar das mulheres é onde elas quiserem, ser mulher é ser-se pelo chão que se pisa e pela experiência pessoal e única de ser mulher, sem ditames de nenhuma ordem, sem a imposição de reduções de caráter biológico, respeitando-se os processos individuais e coletivos de construção e resgate da autodeterminação. Contra as ideias e as ações que nos lesam, dizemos: Não passarão.

Não passarão essas nem quaisquer outras violências das que diariamente são cometidas contra as mulheres em todo o mundo; não passarão com a desumanização e a indiferença exercidas sobre os nossos corpos, ameaçando-os com as tradições que enfraquecem a nossa força e as práticas médicas que manipulam e patologizam a nossa existência. Não passarão as violências que duplamente marginalizam as pessoas que são ainda lidas pelos marcadores sociais de opressão, seja pela racialização dos seus corpos e memórias, seja pela identificação da sua origem, diversidade funcional, contexto socioeconómico, ocupação e trabalho, entre outros. 

A ILGA Portugal reforça o seu compromisso em avançar simultânea e paralelamente com as lutas LGBTI+ e feministas, em celebração e empoderamento da igualdade e diversidade. 

Sendo este um processo de aprendizagem que passa pela desconstrução e construção permanentes, e que deve sempre garantir o reconhecimento e validação das experiências das pessoas mais vulneráveis e sub-representadas na nossa sociedade, abrimos as celebrações e discussões do Dia Internacional das Mulheres e do Mês da Visibilidade Trans no dia 4 de março no Centro LGBTI+, com a conversa sobre a importância do Transfeminismo nas celebrações do 8 de março, organizada pelo GRIT – Grupo de Reflexão e Intervenção Trans. 

Que a nossa luta seja sempre a de mais e mais pessoas. Erguemo-nos, assim, em defesa do direito a existir e resistir além da subsistência, pela liberdade e equidade, por vidas dignas e por toda a reparação que ainda não tiveram.

Lisboa, 8 de março de 2022.