Notícia

MANIFESTO LÉSBICO COLETIVO 2024

26 abril 2024

Neste abril de 2024, ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, um conjunto de associações, coletivas, movimentos e pessoas individuais juntaram-se para criar o AbriLés, uma iniciativa inédita para celebrar a visibilidade lésbica com atividades sáficas ao longo de todo o mês. Pelo caminho que temos trilhado nestes dias incríveis e pela sororidade e união que deu origem a este momento, orgulhamo-nos. 

Hoje, no Dia da Visibilidade Lésbica, apresentamos o Manifesto Lésbico coletivo, criado com o contributo de várias vozes reunidas através de um questionário e nas presenças em atividades, que decidiram juntar-se a esta vontade de ocupar mais espaço, dar mais expressão e ter mais representação lésbica em todos os lugares. 

Afirmamos a nossa orientação sexual como parte estrutural da nossa vida, uma parte essencial que queremos visível, livre e plena. Através da nossa vivência lésbica, abrimos caminho para mais empatia e mais comunidade. Num contexto fortemente heteronormativo onde a heterossexualidade compulsória ainda prevalece, o reconhecimento do nosso lesbianismo tem sido uma construção de luta, resiliência, genuinidade e afirmação. Uma construção para o orgulho, para que não voltem nem voltemos a negar-nos, invisibilizar-nos ou manter-nos no armário.

Ocupamos espaço, exigimos visibilidade para mais dignidade e reconhecimento da diversidade das nossas existências. É através da visibilidade e da representação que mais de nós sentem pertença e segurança. Não somos um mito, um estereótipo, somos reais, válidas, fortes. Não somos um objeto de fetiche, somos pessoas com as suas realidades individuais, com amores, famílias, vidas e sonhos próprios. Existimos, mostramo-nos e dizemos não estamos sós. Acompanhamo-nos e fazemos a mudança!

O apagamento, isolamento e invisibilidade trazem-nos discriminação, geram dificuldades de aceitação pessoal, vergonha, medo, ansiedade, atrasam os nossos processos de afirmação e saída do armário. Quantas vezes essa mesma invisibilidade é também um sinónimo de desvalorização e descrédito sociais, relegando-nos e aos nossos percursos e às nossas relações para um plano inferior.

Na família, no local de trabalho, espaços de culto religioso, nos tribunais, hospitais e centros de saúde, na rua, continuamos a sentir a insegurança e a discriminação devido à nossa orientação sexual. O assédio, as ofensas, as ditas “piadas” lesbofóbicas, as micro violências e agressões, os olhares reprovadores existem. A exclusão, o afastamento, a objetificação mantém-se reais em pleno 2024. 

Hoje, 26 de Abril de 2024, no Dia Internacional da Visibilidade Lésbica, dizemos bem alto: estamos aqui! Queremos mais para as nossas vidas, mais de nós no mundo. Enquanto pessoas lésbicas, em toda a nossa diversidade e interseccionalidade, queremos a mudança.

A mudança para mais segurança, mais reconhecimento da diversidade, mais proteção dos direitos das nossas famílias, mais prosperidade e abundância.

Exigimos políticas que fomentem a educação e a formação para a diversidade nas várias áreas da sociedade, que combatam a heteronormatividade e a lesbofobia, que assegurem a não discriminação. Exigimos uma justiça que puna adequadamente os discursos e crimes de ódio assim como o lesbocídio. 

Pelo direito de evoluirmos e nos transformarmos ao longo da vida sem medos, celebrando todas as nossas expressões de género, as nossas identidades, as nossas cores, experiências subjetivas e universais.

Não aceitaremos mais que nos coloquem à margem. Queremos mais representação e representatividade. Queremos ocupar os ecrãs, as páginas, os palcos. Somos mulheres, cis e trans, e pessoas sáficas em relações lésbicas com muito orgulho. Não toleraremos silenciamentos, omissões, apagamentos. As nossas vozes, os nossos corpos estão vivos, são políticos, pulsam, vibram, acordam, existem e resistem. 

Faremos o nosso papel de existir, resistir e prosperar e exigimos que o Estado, entidades públicas na educação, na saúde, na segurança e em todos os lugares cumpram o seu papel. Combatendo a discriminação, a violência e a lesbofobia, fomentando a educação e a formação para a mudança das mentalidades, contribuindo para a saúde mental, fisica e emocional das nossas comunidades, construindo uma sociedade mais livre em todas as suas frentes e para todas as pessoas

Assim, faremos deste 26 de Abril o dia da nossa liberdade. Livres de ansiedades, medos, culpas e vergonhas. Livres da ameaça que se levanta sobre nós com o crescimento da extrema-direita. Livres para vivermos em pleno a nossa orientação sexual e expressão de género. Livres para sermos ativistas, feministas, transfeministas, anti coloniais e anti racistas, futuristas, amadas e amantes, sáficas, queer, plurais e felizes. Livres sem ódio, violência oudiscriminação. Livres para ser, estar e amar. 

Assinam:
Arquivo Sáfico
CDOC – Centro de Documentação Gonçalo Diniz
Clube Safo
Colectivo Faca
Fabulez
ILGA Portugal
LGBTI Leiria
Madeira Pride
Movimento Por Todas Nós
Queer as Fuck
rede ex aequo
Sapatrux