No dia 7 de setembro, Keyla Brasil, atriz, ativista e presidente da Associação TransParadise, sofreu um AVC em Bangkok, na Tailândia, alguns dias após ter feito uma cirurgia de afirmação de género numa clínica local. Neste momento, a situação está a ser acompanhada à distância pela Associação TransParadise, com o apoio da Opus Diversidades e da Casa do Brasil de Lisboa, num contexto de falta de acesso a informação e falta de respaldo público e institucional gritantes.
Este é mais um caso que deixa a descoberto e confirma o muito que já sabemos sobre o estado dos cuidados de saúde para pessoas trans em Portugal, bem como a ausência de respostas de saúde para pessoas trans migrantes e requerentes de asilo ou proteção internacional. Não podemos aceitar que Keyla Brasil, e todas as pessoas trans e travestis migrantes, sejam obrigadas a procurar cuidados médicos noutros países por falta de opções no seu país de residência, onde criam os seus projetos de vida. Não podemos continuar a aceitar que a falta de respeito e apagamento das suas existências continuem a colocá-las em situação de vulnerabilidade, desamparo, solidão e falta de cuidados na sua senda por uma vida digna e feliz.
O direito à saúde não pode continuar a ser uma questão de classes, porque o direito à saúde é um Direito Humano inalienável. O direito à autodeterminação não pode continuar a ser garantido apenas para as pessoas de nacionalidade portuguesa. E se temos hospitais em Portugal e na União Europeia onde os cuidados de afirmação de género podem ser executados, então não podemos admitir que o Estado português não assuma a responsabilidade de garantir o seu acesso a todas as pessoas, independentemente do seu país de origem, identidade de género ou orientação sexual.
Sabemos que a Keyla Brasil não está abandonada porque tem pessoas amigas, familiares e centenas de pessoas ativistas e alinhadas com os Direitos Humanos que estão, dentro das suas possibilidades particulares, a tentar apoiá-la à distância. Sabemos que Keyla Brasil não está abandonada porque a Associação TransParadise está neste momento no processo de enviar pessoas a Bangkok para perceber o que se passa no terreno e acompanhá-la neste momento. Sabemos que Keyla Brasil não está abandonada porque tem pessoas, outras mulheres trans e travesti como ela, que estão a tentar passar informação para Portugal neste momento de aflição. Mas sabemos, infelizmente, que Keyla Brasil foi abandonada por um sistema que não julga fundamental garantir a proteção da sua segurança, saúde e dignidade.
Por isso, a Associação ILGA Portugal apela ao Estado português que ouça as pessoas trans e travestis, de nacionalidade portuguesa e migrantes residentes em Portugal, sobre as suas questões específicas, trabalhando ativamente para que o Serviço Nacional de Saúde as possa acolher de forma digna e segura. Apelamos a que a ação diplomática seja célere na procura de soluções para uma pessoa residente em Portugal e que tanto tem contribuído para o diálogo e para o desbloqueio de preconceito sobre as questões trans em Portugal.
Todas as atualizações de informação sobre o estado de Keyla Brasil chegarão oficialmente pela página da TransParadise, associação responsável pelo fundraising destinado a pagar a viagem, alojamento e necessidades das pessoas de contacto que vão estar no local a apoiar a Keyla e a perceber quais os próximos passos.
Se tiveres capacidade para apoiar financeiramente, podes fazê-lo no botão abaixo. Podes também partilhar o fundraising entre a tua rede de contactos.