Notícia

Dia Internacional da Visibilidade Trans | Manifesto GRIT

Ser-se é a fundação da própria existência, da própria noção de vida. Ser-se é, também, um direito humano fundamental. Porém, nós, pessoas trans, não-binárias e de género diverso, vivemos a negação e o apagamento sistemáticos das nossas vidas.

Neste Dia Internacional da Visibilidade Trans comemoramos a capacidade e a possibilidade de ser, existir, de viver. Porém, não nos devemos esquecer do silêncio a que a nossa comunidade é remetida, não nos devemos esquecer da invisibilidade a que a nossa comunidade está sujeita. Não nos devemos esquecer.

Ser, existir e viver. Três palavras. Num mundo de estruturas e referenciais rígidos e repletos de constrangimentos, procuramos os espaços onde podemos crescer e sentir acolhimento. Procuramos transpor as limitações que nos criam e mostrar ao mundo que somos, que estamos, que vivemos. Que podemos e que queremos.

Não pedimos: exigimos. Dentro das margens em que nos colocam, exigimos uma vida digna e uma existência completa. Exigimos respeito. Procuraremos, através de quem somos, de quem crescemos a ser, e de quem envelheceremos sendo, estar visíveis. Visíveis para que outras tantas pessoas se possam ver reconhecidas e validadas, acolhidas e seguras. Tudo isto exigimos ao mundo. 

Num sistema cis-normativo que constrói as suas estruturas através de parâmetros questionáveis e perigosos, vivemos nestas condicionantes procurando romper com o status quo de um sistema tão repressivo e opressor.

Vivemos e experienciamos a violência de existir num mundo cis-centrado, cis-sexista, cis-normativo. Porém, somos mais fortes e resilientes. É nas nossas vivências e experiências que está a nossa capacidade de revolucionar o mundo. Lutamos e lutaremos. Procuramos e criaremos alianças e autonomia até que o mundo entenda: nós existimos e nós exigimos a nossa existência. 

Porque a nossa visibilidade conta, a nossa visão do mundo é crucial para a sua mudança. Esta é a mudança que antecipa a liberdade e a libertação de todos estes mecanismos que nos enclausuram todos os dias e que promovem a restrição das nossas vidas, dos nossos círculos relacionais, das nossas capacidades.

A nossa visibilidade conta, porque precisamos de re-centrar as nossas histórias em nós. A visibilidade é sobre nós e sobre como existimos, a visibilidade é sobre nós e como vivemos. 

Num ato revolucionário de existir e num cenário sócio-económico-político tão violento como aquele que se vive hoje, estamos ao lado de todas as pessoas trans, não-binárias e de género diverso. 

Porque a nossa visibilidade conta, estamos ao lado de todas as pessoas trans, não-binárias e de género diverso que sofrem outras formas de violência sistémica por serem racializadas, migrantes, terem diversidade funcional, exercerem trabalho sexual, entre outras marcas de violência que possam ter.

Nós somos as pessoas que, em grande parte, durante os últimos anos não tiveram qualquer referencial para um crescimento saudável e rico em experiências positivas. Nós somos as pessoas capazes e com agência política para decidirmos sobre quem somos e sobre a forma como vivemos o e no mundo. As nossas falas, experiências e vivências são legítimas. Porque a visibilidade conta e tem de contar. 

Porque a vida digna, a existência plena e o ser-se em completude são a força mais poderosa que podemos ter para mudar o mundo. Porque nós somos a mudança.

Por isto e muito mais, estaremos aqui, estamos aqui e estivemos aqui.

Por isto e muito mais, a nossa vida vale quem somos.

Por isto e muito mais, sejamos visíveis, sejamos nós.